DE MATAS E DE ASSOMBRAÇÕES: memórias sobre o contato com seres de outro mundo em Caldas, Minas Gerais
DOI:
https://doi.org/10.46906/caos.n34.71705.p89-109Palavras-chave:
catolicismo popular, vivências, memória, outro mundo.Resumo
Este trabalho se ocupa da presença de seres do outro mundo nas cotidianidades dos moradores de Caldas, município mineiro. A crença nas assombrações foi tecida ao longo dos séculos por meio de permeabilidades culturais e permanece no tempo presente a partir de aparições e da circularidade de narrativas presentes na memória coletiva. Estes seres compõem um sistema simbólico que identifico como catolicismo popular e se manifestam em vários ambientes e em diversas ocasiões. Nesse sentido, algumas matas locais são interpretadas pela população como lugares onde determinados tipos de assombração aparecem e, por isso, devem ser evitados. Por se tratar de uma região rural, o meio natural faz parte da vida social, do modo como as pessoas observam a realidade e se incrusta nas religiosidades. Para tanto, os métodos e as técnicas utilizados para a coleta de dados etnográficos que elucidassem o objeto de estudo se debruçaram sobre a observação participante e a história oral. Quanto à primeira, possibilitou o contato direto e estreito com os caldenses de modo a construir uma proximidade com este sistema simbólico. Do mesmo modo, a história oral permitiu o registro de narrativas presentes na memória individual e coletiva. Esta convergência metodológica resultou na percepção de que, mesmo em face das mudanças ambientais, as assombrações vivem e, além disso, revelou a dinâmica e a plasticidade que as constituem enquanto aspectos que garantem sua permanência ao longo do tempo.
Downloads
Métricas
Referências
ALBERTI, Verena. Manual de história oral. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2005.
AZZI, Riolando. Catolicismo popular no Brasil: aspectos históricos. Petrópolis: Vozes, 1978.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Tempos e espaços nos mundos rurais brasileiros. Ruris: Revista do Centro de Estudos Rurais, Campinas, v. 1, n. 1, p. 37-64, 2007. Disponível em: https://econtents.bc.unicamp.br/inpec/index.php/ruris/article/view/16758. Acesso em: 12 fev. 2025.
CANDIDO, Antonio. Parceiros do Rio Bonito:estudo sobre o caipira paulista e a transformação dos seus meios de vida. São Paulo: Saraiva, 2001.
DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. História oral e narrativa: tempo, memória e identidades. História Oral, n. 6, p. 9-25, 2003. Disponível em: https://revista.historiaoral.org.br/index.php/rho/article/view/62. Acesso em: 12 fev. 2025.
DELUMEAU, Jean. História do medo no ocidente 1300-1800: uma cidade sitiada. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
FABIAN, Johannes. Moments of freedom: anthropology and popular culture. Charlotesville: University Press of Viriginia, 1998.
GALVÃO, Eduardo. Santos e visagens: um estudo da vida religiosa de Itá, Amazonas. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1955.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1989.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Rio de Janeiro: Vértice,1990.
HAUCK, João Fagundes (org.). História da igreja no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1992. Tomos I e II-II/2.
LE BRETON, David. Antropologia das emoções. Petrópolis: Vozes, 2019.
MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné Melanésia. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
MONTENEGRO, Antonio Torres. História oral, caminhos e descaminhos. Revista Brasileira de História, v. 13, n. 25-26, p. 55-65, 1993. Disponível em: https://www.anpuh.org/revistabrasileira/view?ID_REVISTA_BRASILEIRA=17. Acesso em: 29 abr. 2025.
MOTT, Luiz. Cotidiano e vivência religiosa: entre a capela e o calundu. In: NOVAIS, Fernando (coord.). História da vida privada no Brasil: cotidiano e vida na América Portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 155-220. v.1.
O CALDENSE. Orgão imparcial, litterario e noticioso. Caldas: n. 91, p. 3, edição de 29 de outubro de 1876.
PIMENTA, Reynaldo. O povoamento do planalto da Pedra Branca: Caldas e região. São Paulo: Rumograf, 1998. Obra póstuma.
POLLACK, Michael. Memória e identidade social. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 5, v. 10, p. 200-212, 1992. Disponível em: https://periodicos.fgv.br/reh/article/view/1941. Acesso em: 29 abr. 2025.
PORTO, Liliana. A ameaça do outro: magia e religiosidade no Vale do Jequitinhonha (MG). São Paulo: Attar, 2007.
QUINTANA, Alberto Manuel. A ciência da benzedura. Bauru: Edusc, 1999.
RIBEIRO, Maria Moisés. A ciência dos trópicos: a arte médica no Brasil do século XVIII. São Paulo: Hucitec, 1997.
RODRIGUES, João Paulo Pacheco. Crenças e percepção dos sujeitos: o corpo seco da cidade de Cambira (PR). História Oral, Rio de Janeiro, v. 20, n. 1, p. 149–167, 2017. Disponível em: https://www.revista.historiaoral.org.br/index.php/rho/article/view/685. Acesso em: 12 fev. 2025.
SAHLINS, Marshall. O “pessimismo sentimental” e a experiência etnográfica: por que a cultura não é um “objeto” em via de extinção (parte I). Mana, Rio de Janeiro, v.3, n.1, p. 41-73, 1997. Disponível em: https://www.scielo.br/j/mana/a/4xFgqqMPbXLHGc8xkfXBCVH/?lang=pt. Acesso em: 12 fev. 2025.
TAUSSIG, Michael. Xamanismo, colonialismo e o homem selvagem: um estudo sobre o terror e a cura. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.
TURNER, Victor W. Floresta de símbolos: aspectos do ritual ndembu. Niterói: EdUFF, 2005.
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Marcelo Elias Bernardes

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
A Caos é regida por uma Licença da Creative Commons (CC): CC BY-NC 4.0, aplicada a revistas eletrônicas, com a qual os autores declaram concordar ao fazer a submissão. Os autores retêm os direitos autorais e os de publicação completos.
Segundo essa licença, os autores são os detentores dos direitos autorais (copyright) de seus textos, e concedem direitos de uso para outros, podendo qualquer usuário copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato, remixar, transformar e criar a partir do material, ou usá-lo de qualquer outro propósito lícito, observando os seguintes termos: (a) atribuição – o usuário deve atribuir o devido crédito, fornecer um link para a licença, e indicar se foram feitas alterações. Os usos podem ocorrer de qualquer forma razoável, mas não de uma forma que sugira haver o apoio ou aprovação do licenciante; (b) NãoComercial – o material não pode ser usado para fins comerciais; (c) sem restrições adicionais – os usuários não podem aplicar termos jurídicos ou medidas de caráter tecnológico que restrinjam legalmente outros de fazerem algo que a licença permita.
Recomendamos aos autores que, antes de submeterem os manuscritos, acessem os termos completos da licença (clique aqui).










