DINÂMICA POLÍTICA DO ESTADO DE EXCEÇÃO ECONÔMICO PERMANENTE: tensões silenciosas entre mercados financeiros e instituições democráticas
DOI:
https://doi.org/10.46906/caos.n34.71367.p173-191Palavras-chave:
financeirização, democracia, desigualdades, Estado.Resumo
O artigo discute a ascensão do capital financeiro em sobreposição ao Estado democrático, ameaçando os princípios fundamentais de regimes democráticos e do bem-estar social historicamente conquistado. O modelo econômico fordista cedeu lugar a um capitalismo guiado pelo setor financeiro, priorizando a alocação de capital em esferas financeiras em vez de produtivas. Essa mudança, iniciada após a crise de 1929, mas sobretudo a partir da década de 1970, consolidou-se com a desregulação do setor financeiro. O texto destaca a influência do capital financeiro nas políticas públicas, minando instâncias representativas e promovendo e/ou ampliando desigualdades sociais. A pesquisa adota uma abordagem exploratória — a partir da revisão de literatura — para compreender a financeirização do Estado e suas implicações políticas, enfatizando a interdependência que se consolidou entre mercado financeiro e ação estatal. Conclui-se que a crescente influência das finanças compromete a estabilidade democrática e o bem-estar social, exigindo fortalecimento dos mecanismos de accountability e uma revisão do papel do Estado na promoção do desenvolvimento econômico e social. Em resumo, a financeirização representa um enorme desafio para democracias — consolidadas ou emergentes —, demandando uma abordagem assertiva que assegure um modelo de desenvolvimento mais inclusivo e equitativo.
Downloads
Métricas
Referências
BERCOVICI, Gilberto. Da constituição dirigente invertida à financeirização e privatização das finanças públicas no Brasil. In: MARQUES, Rudinei; CARDOSO JÚNIOR, José Celso (org.). Dominância financeira e privatização das finanças públicas no Brasil. Brasília, DF: Fonacate, 2022. p. 12-15.
BERCOVICI, Gilberto. O estado de exceção econômico e a periferia do capitalismo. Pensar – Revista de Ciências Jurídicas, Fortaleza, v. 11, n. 1, p. 95-99, 2006. Disponível em: https://ojs.unifor.br/rpen/article/view/780. Acesso em: 6 fev. 2025.
BRUNO, Miguel; CAFFE, Ricardo. Estado e financeirização no Brasil: interdependências macroeconômicas e limites estruturais ao desenvolvimento. Economia e Sociedade, Campinas, v. 26, n. especial, p. 1025-1062, 2017. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ecos/a/cMqwL9wPX9kndtKJyC4fWSM/abstract/?lang=pt. Acesso em: 6 fev. 2025.
CARVALHO FILHO, Nelson Diniz de. A financeirização na longa duração: dinheiro, tempo e poder. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2020.
CHIAPELLO, Eve. Financialization as a socio-technical process. In: MADER, Philip; MERTENS, Daniel; ZWAN, Natascha van der. (org.). The Routledge international handbook of financialization, New York: Routledge, 2020. p. 81-91.
ERTÜRK, Ismail. Shareholder primacy and corporate financialization. In: MADER, Philip; MERTENS, Daniel; VAN DER ZWAN, Natascha (org.). The Routledge international handbook of financialization. Routledge, 2020. p. 43-55.
FOSTER, John Bellamy. The financialization of capitalism. Monthly review, [S. l.] v. 58, n. 11, 2007. Disponível em: https://monthlyreview.org/2007/04/01/the-financialization-of-capitalism/. Acesso em: 6 fev. 2025.
FRASER, Nancy. Legitimation crisis? On the political contradictions of financialized capitalism. Critical Historical Studies, Chicago, IL, v. 2, n. 2, p. 157-189, 2015.
GRÜN, Roberto. Decifra-me ou te devoro! As finanças e a sociedade brasileira. Mana, Rio de Janeiro, v. 13, p. 381-410, 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/j/mana/a/dP4Yt7jNSRDWhzrhHrwCpxD/. Acesso em: 6 fev. 2025.
GRÜN, Roberto. A evolução recente do espaço financeiro no Brasil e alguns reflexos na cena política. Dados, Rio de Janeiro, v. 47, p. 5-47, 2004. Disponível: https://www.scielo.br/j/dados/a/Acesso: 6 fev. 2025.gvzjRrRN8NxJJtg3HYXXQ3Q/?lang=pt. Acesso: 6 fev. 2025.
KARWOWSKI, Ewa. How financialization undermines democracy. Development and Change, [S. l.], v. 50, n. 5, p. 1466-1481, 2019. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1111/dech.12537. Acesso em: 6 fev. 2025.
KARWOWSKI, Ewa; CENTURION-VICENCIO, Marcos. Financialising the state: recent developments in fiscal and monetary policy. HAL SHS, [S. l.], p. 1-28, 2018. Disponível em: https://shs.hal.science/halshs-01713028v1. Acesso em: 6 fev. 2025.
KRIPPNER, G. R., Capitalizing on crisis: The political origins of the rise of finance. Cambridge, MA: Harvard University Press, 2012.
LAPAVITSAS, Costas. Theorizing financialization. Work, employment and society, [Durham, UK], v. 25, n. 4, p. 611-626, 2011.
LAZONICK, William. Maximizing shareholder value as an ideology of predatory value extraction. In: SOGNER, Kunt, COLLI, Andrea (org.). The emergence of corporate governance. Oxon, UK: Routledge, 2021. p. 170-186.
MADER, Philip; MERTENS, Daniel; ZWAN, Natascha van der. (org.). The Routledge international handbook of financialization. New York: Routledge, 2020.
MARX, Karl. O Capital: o processo global de produção capitalista. São Paulo: Boitempo, 2017. v. III.
MAZZUCATO, Mariana. O valor de tudo: produção e apropriação na economia global. São Paulo: Portfolio-Penguin, 2020.
MAZZUCATO, Mariana. O estado empreendedor: desmascarando o mito do setor público vs. setor privado. São Paulo: Portfolio-Penguin, 2014.
MUNDO NETO, Martin; DONADONE, Júlio Cesar. Elite financeira e capitalismo de índices no Brasil. Princípios, São Paulo, v. 42, n. 166, p. 55-73, 2023. Disponível em: https://revistaprincipios.emnuvens.com.br/principios/article/view/279. Acesso em: 6 fev. 2025.
NÖLKE, Andreas. Financialization and the crisis of democracy. In: MADER, Philip; MERTENS, Daniel; ZWAN, Natascha van der. (org.). The Routledge international handbook of financialization. New York: Routledge, 2020. p. 425-436.
PAGLIARI, Stefano; YOUNG, Kevin L. How financialization is reproduced politically. In: MADER, Philip; MERTENS, Daniel; ZWAN, Natascha van der. (org.). The Routledge international handbook of financialization. New York: Routledge, 2020. p. 113-124.
PERSAUD, Avinash. Adam Tooze’s Crashed: how a decade of financial crises changed the world. Contributions to Political Economy, UK, v. 38, n. 1, p. 74-81, 2019.
PIKETTY, Thomas. Capital e ideologia. Rio de Janeiro: Editora Intrinseca, 2020.
PIKETTY, Thomas. A economia da desigualdade. Rio de Janeiro: Editora Intrinseca, 2015.
STREECK, Wolfgang. As crises do capitalismo democrático. Novos estudos CEBRAP, São Paulo, n. 92, p. 35-56, 2012. Disponível em: https://www.scielo.br/j/nec/a/C7TPzqZKQCHQ5YbXCyJGp6b/. Acesso em: 6 fev. 2025.
STREECK, Wolfgang. Tempo comprado: a crise adiada do capitalismo democrático. São Paulo: Boitempo Editorial, 2019.
SWEEZY, Paul. The Triumph of Financial Capital. Monthly review [S. l.], v. 46. n. 02, 1994. Disponível em: https://monthlyreview.org/1994/06/01/the-triumph-of-financial-capital/. Acesso em: 6 fev. 2025.
TOOZE, Adam. Crashed: how a decade of financial crises changed the world. New York: Penguin, 2018.
WANG, Yingyao. Financialization and State transformations. In: MADER, Philip; MERTENS, Daniel; ZWAN, Natascha van der. (org.). The Routledge international handbook of financialization. New York: Routledge, 2020, p. 188-199.
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2025 Matheus Botelho, Júlio César Donadone

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International License.
A Caos é regida por uma Licença da Creative Commons (CC): CC BY-NC 4.0, aplicada a revistas eletrônicas, com a qual os autores declaram concordar ao fazer a submissão. Os autores retêm os direitos autorais e os de publicação completos.
Segundo essa licença, os autores são os detentores dos direitos autorais (copyright) de seus textos, e concedem direitos de uso para outros, podendo qualquer usuário copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato, remixar, transformar e criar a partir do material, ou usá-lo de qualquer outro propósito lícito, observando os seguintes termos: (a) atribuição – o usuário deve atribuir o devido crédito, fornecer um link para a licença, e indicar se foram feitas alterações. Os usos podem ocorrer de qualquer forma razoável, mas não de uma forma que sugira haver o apoio ou aprovação do licenciante; (b) NãoComercial – o material não pode ser usado para fins comerciais; (c) sem restrições adicionais – os usuários não podem aplicar termos jurídicos ou medidas de caráter tecnológico que restrinjam legalmente outros de fazerem algo que a licença permita.
Recomendamos aos autores que, antes de submeterem os manuscritos, acessem os termos completos da licença (clique aqui).










